No caminho à Terra Santa

Com o matrimônio de Domenica Zamarian, datado de 1743 com Valentino Pasador, inicia-se a nossa ligação com este Sagrado local e muito especial para nossa gênese.

Porém a história é um pouco mais antiga. Para ser exato cinco séculos antes por volta de 1220 quando o hoje, município de Precenicco, vem a ficar sob custódia dos místicos Cavaleiros Teutônicos de Santa Maria de Jerusalem, ordem militar alemã cruzada criada em 1190, em Acre, Israel, vinculada a Igreja Católica com a indicação do Papa Clemente III.

O intuito era fazer de Precenicco um porto de hospedagem para os peregrinos que rumavam para à Terra Santa.

Em 1623 passa para o controle do Patriarcado de Aquileia, cidade portuária fundada pelos romanos em 181 antes de Cristo, distante 30 quilômetros de Precenicco, cuja arquidiocese pertencia ao famigerado clã dos Condes de Gorizia mais ao nordeste da região.

No ano seguinte, com a construção da igreja e reestruturação em 1625 passa a ser parte diretamente da Arquidiocese de Gorizia, condição que prevalece até 1818 quando finalmente responde diretamente à capital Udine.

A construção e consagração

Sua consagração ocorre em 1821 e somente em 2007 passa por uma restauração merecidamente levando em consideração a história que carrega e pela importância patrimonial e cultural que representa.

Interior em cruz, com frontão em forma de salão cujas paredes são divididas em cinco partes por pilastras que se dobram para definir o corpo central que é ladeado por duas capelas de cada lado voltadas para arco de volta perfeita; ao centro as entradas duplas dos confessionários, cada uma encimada por um clípeo com busto, à direita o de pároco, e por cima a epígrafe comemorativa; entablamento perimetral para sustentação do teto dividido em quatro garras apontadas pela moldura, duas nas laterais para conter as duas janelas retangulares e duas acopladas no topo do eixo principal.

Particularidades

No altar maior foi conservado em estilo barroco de 1623, com mármores policromos, junto ao qual estão presentesduas telas de estilo setecentista: Cristo no Getsêmani e a Última Ceia com iconografiaduas pinturas representando Jesus Cristo no Getsêmani e A Última Ceia.

Duas esculturas de Luigi Pizzini (1884-1977), tela com os santos, Atanasio, Antonio e Valentino (século XVII), além de quatro altares laterais e uma estátua de Nossa Senhora do Rosário, esculpida por Giovanni Costantini (1875-1917), contemplam o interior da paróquia.

Formação da nave principal

Em cada extremidade dos lados uma porta secundária.

A cabeça da cruz, elevada por três degraus, domina o arcosanto colocado no entablamento angular; as partições parietais são definidas pelas pilastras coríntias; o teto é em forma de cruz definido por grandes faixas; o braço absidal estreito com parede plana é coberto por abóbada de berço com uma luneta pintada ao fundo; os dois braços de menor altura enfrentam com arco rebaixado encimado pelo entablamento com janela no eixo; em cada braço uma entrada para as salas da sacristia.

Obras de renomados artistas

As estátuas de São Urbano e da Sagrada Família são um trabalho em madeira e estuque de Luigi Piccini de Udine (final do século XIX - início do século XX); a estátua de madeira da Madonna del Rosario, a arca e o coro foram feitos por Giovanni Costantini (1875-1917) de Latis.

Os afrescos do teto da nave (Gloria di S. Urbano) e do coro (os Evangelistas) testemunham o bom trabalho de Francesco Barazzutti de Gemona (final do século XIX).

Detalhes externos

Na contrafachada, espelhada na entrada do presbitério, a bússola e o coro alto sobre duas colunas, da largura do salão com órgão ao centro. Piso homogêneo em lajes bicolores vermelhas e brancas dispostas em padrão losango.

Externamente a construção tem um aspecto retangular com a cobertura em tesoura simples e beiral em alvenaria com uma cruz latina em seu cume que também serve para orientar nascente e poente. No centro da tesoura superior destacando a faixada frontal da entrada da igreja uma roseta em forma de nicho com a imagem de San Martino Vescovo (ou simplesmente São Martinho Bispo).

Particularidades marcantes à primeira vista da igreja

A torre sineira autônoma está localizada em frente à fachada do lado sul.

Fachada principal, em ocre bicolor, tripartida por quatro pilastras dóricas sobre plintos de base alta, as angulares acopladas e unidas por uma moldura; entablamento e tímpano com armação tripartida virada na fixação das laterais; todas as decorações emolduradas são de cor branca, como o portal com moldura moldada e o tímpano quebrado com ânfora central.

A história de São Martinho

Martinho (Martinus em latim e Saint Martin em francês) de Tours nasceu na romana Sabaria, Província de Pannonia (hoje cidade de Szombathely na Hungria) em 316 depois de Cristo e faleceu na cidade de Candes, Província de Gália (hoje a mesma cidade aderiu o nome do santo patriarca, na França) em 397.

Seu pai era militar da legião romana e lhe deu o nome em homenagem a Marte, deus da guerra. Ainda criança se transfere para Pavia (Lombardia) onde transcorre sua infância. Aos dez anos foge de casa e se refugia em uma igreja por cerca de dois dias. Em 331 uma lei imperial obriga todo os filhos de veteranos a se alistarem no exército romano.

Depois de se tornar soldado é enviado para a Gallia (França) junto a cidade de Amiens onde era parte da guarda imperial e passou a maior parte de sua vida militar.

A passagem que marcou para sempre sua vida e mudou a rota da própria espiritualidade

Durante uma ronda noturna de inspeção dos postos de guarda ocorre um episódio que mudaria sua vida pra sempre e que virou seu próprio ícone.

No rígido inverno de 335, Martinho se deparou com um mendigo semi nu no trajeto.

Vendo todo aquele sofrimento, cortou em duas partes o seu manto militar (item que fazia parte da vestimenta conhecida como clâmide, um cobertor em lã retangular utilizado por militares que ficava acondicionado no ombro esquerdo e abotoado por um broche no outro ombro direito e que se estendia até pouco mais da cintura) dividindo então com andarilho.

Na noite seguinte tem um sonho com Jesus revestido pela metade de seu manto militar. Ele ouve Jesus então dizer aos seus anjos:

“Eis aqui Martinho, o soldado romano que não é batizado, ele me vestiu”.

Quando Martinho acordou o manto estava íntegro. A vestimenta então se torna milagrosa e conservada como relíquia parte das coleções da dinastia merovíngia dos Francos. Desse evento também surge o termo popular “capela”, do diminutivo de capa, para aqueles encarregados de cuidar do manto de São Martinho, ou ainda capelães, para um pequeno oratório que não era igreja.

O sonho provoca tamanho impacto na vida de Martinho ao ponto de se tornar catecúmeno e posteriormente batizado na Páscoa.

Permanece ainda por duas décadas parte do exército romano chegando à graduação de oficial.

O abandono à carreira militar para se dedicar à igreja

Próximo dos quarenta anos de idade, decide deixar a carreira militar e se dedicar àquela eclesiástica. Porém por volta de 325 lutando contra doutrina ariana acaba sendo perseguido primeiro na própria Gallia (França) e depois em Milão por bispos arianos eleitos.

Se exila na Ilha Gallinara (Liguria) e após ter consumido uma planta venenosa local consegue se recuperar através de orações. Retorna a cidade de Poitiers se tornando monge fundando um dos primeiros monastérios do ocidente, na cidade de Ligugè.

Em 371 ganha sua segunda nomenclatura popular: os cidadão da cidade de Tours o conclamam bispo, mesmo se alguns clérigos resistem pelos fatos ocorridos e por Martinho não ser de origem nobre.

Como bispo, ele continuou residindo em sua simples casa de monge e prosseguiu na sua missão de propagar a fé, criando na região novas pequenas comunidades de monges.

Sua batalha continuava contra a o que considerava “heresia ariana” e algumas práticas pagãs em áreas rurais. E suas atitudes tomam fama e difusão na comunidade cristã, além daquela de milagreiro, se distinguia como um homem dotado de caridade, justiça e sobriedade.

Com uma conduta mais voltada ao estilho “pastoreiro” dentro da doutrina cristã, percorria pessoalmente os distritos agrícolas, dedicando particular atenção às comunidades rurais. Oração e evangelização eram suas principais metas de conduta.

Falece aos 81 anos de idade no dia 8 de novembro de 397 em Candes (hoje Candes-Saint-Martin), onde estava alocado com a missão de promover a paz entre o clérigo local.

Sua morte, ocorrida em forma de santidade também graças aos milagres à ele atribuídos, marcou início de um culto no qual a generosidade do cavaleiro, a renúncia ascética e a atividade missionária estavam associadas.

Entre os milagres que lhes fora atribuído estão inclusive três casos de ressureição, pelo qual vinha designado “Trium mortorum suscitador”, ou seja “aquele que ressuscitou três mortos”.

São Perpétuo, bispo de Tours de 461 à 491, comissionou ao poeta e reitor Paolino de Périgueux uma biografia de São Martinho de Tours, que foi redigida em versos, distribuída em seis livros.

A conexão com os cavaleiros teutônicos

Fatos esclarecido fica então mais fácil saber porque a principal igreja do município de Precenicco leva o nome de San Martin Vescovo (ou São Martinho Bispo).

Afinal era um soldado da cavalaria romana que decidiu, após um encontro pessoal forte com Cristo, dedicar a sua vida em função da igreja.

E nada mais exemplar em termos de testemunho de vida para os Teutônicos, que iconizar em seu lema, um cavaleiro que divide com o peregrino o seu próprio manto.