O Steam Ship Sirio
1320 passageiros, a obra de Napler
O “Steamer Ship” (Navio à Vapor) Sirio, no italiano também denominado “Piroscafo”, foi construído pela armadora escocesa de Robert Napler and Sons, fundada pelo engenheiro que leva o mesmo nome em 1826, na cidade portuária de Glasgow.
Encomendado pela Società Italiana di Trasporti Marittimi Raggio & Co, de Genova, pesa quatro mil cento e quarenta e uma toneladas, com 116 metros de comprimento e treze na sua maior largura. Possuía duas chaminés, três mastros e hélice única produzindo uma velocidade de 14 nós.
Criado para acomodar oitenta passageiros na primeira classe, quarenta na segunda e mil e duzentos na econômica, foi lançado ao mar no dia 26 de março de 1883. Deixou Glasgow no dia 19 de junho de 1883 com desino ao porto italiano de Genova.
Marco Zamarian e família teriam imigrado com o Sirio
Construído para atender a grande demanda da rota migratória que envolvia Itália, Espanha e Portugal, sua primeira rota saindo de Genova, teve como destino Las Palmas, Montevidéu e Buenos Aires, no dia 15 de julho de 1883.
No ano de 1885 o SS Sirio passa para NGI (Navigazione Generale Italiana) operando dentro da mesma rota de imigração entre Europa e América do Sul com a primeira viagem no dia 21 de Março de 1885. No ano de 1891, o transatlântico passa por uma elaborada reforma o que faz o navio aumentar sua força para quinze nós.
Acredita-se que Marco Zamarian, a esposa Luigia Pasian (confirmada) e o filho Antonio tenham utilizado este “piroscafo” na imigração para Argentina, já que um registro encontrado no nome da mulher confirma o desembarque da mesma no dia 21 de setembro de 1897. Porém ela teria vindo do porto de Santos com destino a Buenos Aires.
o triste naufrágio de 1906
Infelizmente o Sirio não teve um final feliz. O navio deixou o Porto de Genova no dia 2 de Agosto de 1906 com destino a Buenos Aires, com escala em Barcelona, Cadice, Gran Canaria, Cabo Verde, Rio de Janeiro, Santos e Montevidéu. Atracou, conforme seu itinerário na capital catalã de Barcelona e após embarcar os passageiros rumou para Cadice.
No dia 4 de agosto o navio transita pelo Cabo Palos, sobre a costa mediterrânea da Espanha. A formação geológica desta região é muito baixa, formando saliências promontórios de rochas muito elevadas com penhascos pontiagudos com apenas três ou quatro metros do nível do mar. As rotas marítimas daquela época ocorriam ao redor dessas ilhas para evitar o perigo de colisões. Além disso, como reforço, no próprio Cabo Palos se elevou um farol no ano de 1864 justamente para orientar.
Nessa mesma tarde, por volta das 16 horas (local), o navio, que continuava a toda velocidade, encalhou perto do Cabo Palos por navegar muito próximo da costa. Além disso, a proa foi vista elevando-se violentamente da água devido à alta velocidade, conforme também descrito no depoimento do comandante do navio francês Maria Louise, que presenciou o ocorrido e participou dos trabalhos de resgate:
“Vi passar o vapor italiano Sirio, navegando a todo vapor. Apontei sua passagem para meu colega de bordo quando percebi que ele havia parado repentinamente... Vi a proa subir, afundando a popa. Não havia mais dúvidas: o Sirio havia sofrido uma colisão. Imediatamente direcionei a Marie Louise para Sirius. Ouvimos então uma violenta explosão: as caldeiras tinham explodido. Pouco depois vimos cadáveres nas ondas, ao mesmo tempo que gritos desesperados de socorro chegavam aos nossos ouvidos.”
O jornal italiano “Corriere della Sera” noticiou o infeliz desastre do navio, “O Selvatagio”: A primeira sensação de espanto gerou num piscar de olhos uma multidão em pânico, produzindo uma confusão indescritível. Os passageiros, correndo e gritando desesperadamente, impossibilitaram os trabalhos de resgate.
Apareceram, assim, a partir de meados do mesmo ano, o Eugenia, o Laura, o Alice, o Columbia, o Atlanta, o Argentina e o Oceania. Este último mencionado, lançado ao mar dos estaleiros de A. Stephen & Sons, de Glasgow.
A partir da notificação do incidente em pleno dia e a poucos quilômetros da costa, as equipes de resgate se locomoveram imediatamente. Participaram da busca inclusive algumas embarcações pesqueiras como o pesqueiro conduzido por Vicente Buigues e Vicenza Licano, que velozmente rumaram ao local do naufrágio. Não obstante as tentativas, os passageiros do Sirio, amedrontados não queriam deixar a embarcação e foi preciso impor ameaça armada para obedecerem.
Vicente Buigues
O jornal inglês Daily Telegraph também denunciou cenas de violência com lutas envolvendo utilização de facas devido a poucos socorristas disponíveis. Uma crônica da época narra que a maior parte da equipe conseguiu ter um bom êxito nos socorros porque o navio ficou encalhado por dez dias.
Oficialmente apontaram 293 vítimas, outros 442, no entanto estima-se que o número final ultrapassou as quinhentas, ou seja mais de um terço da capacidade total do navio. Entre elas estava o Bispo da cidade de São Paulo (Brasil), José Camargo de Barros. Os sobreviventes que decidiram continuar a viagem embarcaram no Ravvena, enquanto os desistentes retornaram para Itália a bordo do Orione.
Investigações foram abertas logo em seguida do desastre que apuraram que o Capitão Giuseppe Piccone dedicou tudo que pode para salvar sua tripulação e foi o último a salvar-se. No entanto alguns jornais da época reportaram que o capitão não teve um comportamento nada apropriado na condução dos trabalhos de resgate dos seus passageiros.
A imprensa espanhola denunciou entre outros que o Sirio fez escalas não oficiais ao longo da costa ibérica para embarcar passageiros clandestinos. Isto explicaria o motivo pelo qual o Sirio se encontrava tão próximo da costa.
Em Cabo Palos existe um museu dedicado ao naufrágio do “piroscafo”. Entre outros é possível observar inclusive os itens que davam acesso aos clandestinos nas escalas extras.
A poupa do navio se encontra à cerca de 40 metros de profundidade, enquanto a proa em torno de setenta. Para este triste episódio a cantora italiana Giovanna Marini e o cantor italiano Francesco De Gregori dedicaram a canção “il tragico naufragio della nave Sirio”.
E da Genova i Sirio partivano
per l’America varcare, varcare i confin
e da bordo cantar si sentivano
tutti allegri del suo, del suo destin.
Urtò il Sirio un terribile scoglio,
di tanta gente la mi-la misera fin:
padri e madri abbracciava i suoi figli
che sparivano tra le onde, tra le onde del mar.
Più di centocinquanta annegati,
che trovarli nessu-nessuno potrà;
e fra loro un vescovo c’era
dando a tutti la sua be-la sua benedizion.