Ao lado da história Zamarian

Nos artigos anteriores tivemos a oportunidade de nos familiarizarmos com o Comune de San Michele Al Tagliamento, a qual administrativamente abrange o distrito de Malafesta, até então bem conhecido entre nós como possível marco zero da nossa genealogia na Itália por volta de 1700 com Giovanni Maria Zamarian e Giulia, casal, ao que tudo indica deu a série a toda a genealogia Zamarian no Vêneto.

Boa parte dos primeiros documentos da ordem de batismo (e consequentemente nascimento), matrimonio e óbitos da nossa genealogia foram redigidos em Villa-nova della Cartera por um bom tempo na paróquia de San Tomaso Apostolo, igreja que faz parte da Diocese de Pordenone, responsável pelas paróquias de toda a região. Deste modo a vida social religiosa da população local passava por ali.

Ainda não conseguimos apurar a real história por trás de “Malafesta”, mas, ao que tudo indica, e até pelas declarações de Osvaldo Zamarian, relembradas em certa ocasião pelo neto Paulo, como o próprio nome já indica, acontecera um evento naquela região que não terminara bem. Portanto a fama e o batismo um tanto pejoravito do local. Contos populares a parte, ainda estamos tentando com contatos frenquentos junto a Comune de San Michele, informações melhores para no futuro publicar aqui.

O início da papelaria

No entanto um artigo muito interessante de Villanova della Cartera nos veio e sentimo-nos na obrigação de compartilhar.

Chegando próximo ao local podemos ver entre as árvores da planície que geralmente é inundada pelo majestoso rio Tagliamento um pedaço da arqueologia que resguarda justamente o marco zero dos Zamarian na Itália: se trata do antigo moinho de Villanova e sua construção é datada de 1700.

Sobre o lado direito do sítio originalmente se encontrava um moinho. A sua destinação de uso fora modificada no século XVII para transforma-la em uma fábrica de papel (cartiera) e, propositalmente no século XIX, construída uma central hidroelétrica, em função do pós guerra. A edificação de fato deve sua operação à presença da rota do moinho, antigo braço do rio Tagliamento que o homem modificou ao longo dos séculos para aproveitar o desnível hidráulico.

No século XVI em Venezia, imprimir era uma das atividades mais lucrativas por parte dos patrícios venezianos, os quais precisavam da preciosa matéria prima, o papel, difícil de produzir na cidade devido a necessidade de grande volume de água doce durante a evaporação. Os patrícios então financiavam a produção de papel no interior, e muito provavelmente a papelaria (cartiera) de Villanova foi alvo de desejo da nobre família Barbarigo, proprietária do feudo vizinho conhecido como Fraforeano (onde nascera diversos membros da família Zamarian), que nos primeiros anos do século XVII reconheceu no sítio do moinho de Villanova o local ideal para esse tipo de produção. Sucessivamente a papelaria fora adquirida pela família Mocenigo, que em Alvisopoli (cerca de 6 quilômetros do local) possuíam uma tipografia. Era produzido papel de fino processamento de alta qualidade provenientes da grande Morsano al Tagliamento (cinco quilômetros distante).

De Moinho à hidroelétrica

A papelaria também era residência da família do mestre do papel, função que previa a formação e controle dos operários. Por um período o local trabalhou tanto na função de moinho quanto na de papelaria, produção que tinha seu maior pico na primavera e no outono para evirar o calor estivo e a humidade invernal. Da primeira metade do século XVII (1700-1750) o trabalho da papelaria começou inicialmente a cair devido a evolução dos procedimentos para confecção do papel, então produzida a partir da madeira com custos bem menores.

Próximo do século XX, no lado esquerdo do curso d’água, fora construída uma central hidroelétrica por vontade de Vittorio Biaggini, homem clarividente que com seus próprios recursos forneceu luz elétrica a San Michele Al Tagliamento, San Vito e Latisana. O salto d’água de dois metros e meio permitiu que as turbinas gerassem eletricidade, ainda presente na região.

A preservação da cultura e memória do local

A edificação passou por um processo de reestruturação financiado em conjunto pela administração local e empresa privada, para ser transformado em museu da civilização camponesa, além disso, a área circundante será preservada com trajetos para caminhadas na planície aluvial do Tagliamento.