El tango Zamarian
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Em fevereiro de 2019 resolvi colocar em prática o plano de unificar toda a genealogia familiar e comecei a investigar materiais a disposição na web.
Cheguei primeiramente a dois documentos bem interessantes do acervo do “registro civil napoleônico” que disponibiza digitalizações entre o período dos anos de 1805 até 1814.
No dia 17 de março de 1805 foi criado o Reino da Itália, e Napoleão Bonaparte 2 meses depois se torna o rei.
Dos pontos positivos dessa hegemonia, a criação de um registro civil e com isso hoje, através da disponibilização desses documentos na web, elementos substanciais que ajudam reconstituir a história de muitas famílias, como o caso da nossa.
Os documentos encontrados tratavam-se de dois óbitos registrados no ano de 1811 de San Michele Al Tagliamento, Província de Venezia. O primeiro deles de Antonio Zamarian, registrado sob o número 18 em uma quarta-feira do dia 19 de setembro de 1911 com a seguinte transliteração:
Dipartimento dell’Adriatico, Distretto e Cantone di Porto Gruaro, comune di San Michele, comunello di Villa Nova, il giorno dieci nove / 19 / Settembre anno mille otto cento undici / 1811.
Il sottoscritto aggiunto all’ufficiale dello stato Civile per la Frazione di Villa Nova dietro l’aviso pervenutogli si è trasferito nel luogo di domicilio di Zammarian Osvaldo ove la riconosciuto il Cadavere di (1751) di Zammarian Antonio morto ieri alle ore sei pomeridiane nell’età di anni sessanta di professione Villico ammagliato con Petron Elena di Professione Villica era domiciliato alla Malafesta di questo comunello.
Presente ala ricognizione furono (1762) Blaseot Biaggio di Professione villico domiciliato al palazzetto di questo comunello d’anni quaranta nove e (1787) Zammarian Pietro di Professione Villico d’anni venti quattro domiciliato ala Malafesta anzidetta nipote del Defonto, quali testimoni unitamente dichiarano che il suddetto Zammarian Antonio è nato da Zammarian Zammaria e da Biasin Maria erano domiciliati ala Malafesta suddetta.
Il suddetto atto fu letto, e pubblicato a tutti li soprannominati comparsi, e presenti, li quali non si sono firmati con me sottoscritto aggiunto perché hanno dichiarato di esser illetterati.
Felice Botti Curato d’anime per la frazione di Villa Nova aggiunte all’ufficiale.

A descrição era rica em detalhes e revelava pontos cruciais no que tange a arquitetura de uma breve história genealógica, tais como:
- Felice Botti transcreve o sobrenome com dois emes em todo momento;
- Aponta o local “Malafesta” e a residência de um Osvaldo (Zamarian);
- Declara a idade do falecido Antonio, sessenta anos;
- Informa o nome da esposa Elena Petron;
- Cita outros indivíduos da família: Pietro (sobrinho) e sua residência “palazzetto”;
- Revela o nome do pai Zammaria (Giovanni Maria) e da mãe Maria Biasin, e também como falecidos “...erano...”;
- E por fim a profissão de todos, “villico” uma espécie de camponês ou agricultor, popularmente conhecido na época.
Pistas interessantes que cronologicamente podemos formar o primeiro esboço documentado histórico de nossa genealogia e supostamente atribuir inclusive uma época de nascimento para os pais:
-
Antonio faleceu em 1811 e havia sessenta anos, sugerindo então um ano de nascimento médio (por geração) a partir de 1751:
- e assim também trabalhar as idades dos pais em pelo menos vinte anos antes daquela do filho Antonio a partir de 1731.
- Saber a diferença de idade do sobrinho Pietro (trinta e seis) e obviamente estipular o próprio ano de nascimento, 1787.
- Por fim arquitetar um gráfico com a esposa Elena.

Nosso diagrama genealógico então começa a ganhar forma a partir desses dados, com um pouco de estranheza para o nome “Zammaria”, que no dialeto veneto significa Giovanni Maria (João Maria), Zan (João).
Já o sobrenome com dois emes, que caiu em desuso tempos depois para ser aquele que hoje mais comumente conhecemos, pode ser uma interpretação da época de uma origem fora dos padrões da península itálica, como acreditamos fortemente ter vindo de Constantinopla e de ascendência armênia, como já investigados em outros documentos provindos daquela região.
O segundo documento de Valentino Zamarian, curiosamente descreve a mesma idade, sessenta anos, vinte oito dias exatos, após o óbito de Antonio Zamarian:
Dipartimento dell’Adriatico, Distretto e Cantone di Porto Gruaro, Comune di San Michele, Comunello di Villa Nova, il giorno sette / 7 / ottobre anno mille otto cento undici / 1811/
Il sottoscritto aggiunto all’ufficiale dello Stato Civile per la Frazione di Villa Nova dietro l’aviso pervenutogli si è trasferito nel luogo di domicilio di Zammarian Osvaldo ove ha riconosciuto il Cadavere di Zammarian Valentino morto ieri alle ore sei pomeridiane nell’età d’anni sessanta circa di professione villico ammogliato con Biason Domenica di professione villica era domiciliato alla Malafesta di questo comunello.
Presenti alla ricognizione furono Zammarian Antonio figlio del defunto di professione Villico domiciliato alla Malafesta d’anni trenta e Biasin Valentino d’anni quarantuno di professione villico domiciliato alla Biassini di questa comune, nipote del defunto, quali testimoni unitamente dichiarano che il suddetto Zammarian Valentino è nato da Zammarian Osvaldo e da Cecutti Valentina erano uguali domiciliati alla Malafesta suddetta.
Il suddetto atto fu letto, e pubblicato a tutti li soprannominati comparsi, e presenti, li quali non si sono firmati con me sottoscritto aggiunto perché hanno dichiarato di esser illetterati.
Felice Botti Curato d’anime per la frazione di Villa Nova aggiunte all’ufficiale

Nesse registro não encontramos provas substanciais de que Valentino tenha uma ligação com Antonio, mas o fato de revelar o mesmo nome de proprietário da residência gera esperança de ser da família citando inclusive que o filho possui o mesmo nome.
Montado o segundo prospecto genealogico chama atenção o pai de Valentino ter o nome de Osvaldo também, porém descarta-se ser o proprietário da casa já que o documento cita “...erano uguali domiciliati...”, portanto falecido.
Deste modo nosso primeiro esboço que era Zammaria (Maria Biasin) e o filho Antonio (Elena Petron) ganha um suposto irmão, Osvaldo (Valentina Cecutti) e o filho Valentino (Domenica Biason).
O dono da residência (Osvaldo), citado nos dois registros e o sobrinho Pietro ficaram como observações que mais tarde enquadrariam em outra descoberta que deixarei para contar em tema apropriado.

Marco Zamarian
A partir de 1815 os registros civis passam novamente para o controle das Dioceses.
Por volta de 1860, retornam a ser efetuados por parte das respectivas administrações públicas locais e aqueles que dizem respeito ao período até início dos anos 1900 também diponibilizados na web para consulta.
Mesmo se estamos falando de uma lacuna de quarenta anos (entre 1815 e 1860), este fato seria muito importante para o desenvolvimento final como veremos adiante.
O fato dos documentos seguirem a mesma configuração dos napoleônicos, ou seja, citando em suas respectivas descrições dados importantes, tais como os pais, testemunhas que pudessem corroborar nas conexões, além de obviamente o local e as respectivas deduções cronológicas das datações possibilitaram os encaixes.
Alguns, em muitas das vezes, até citavam os avós dos registrados.
E ao começar a analisar esses “novos documentos” cheguei a dois personagens importantes que desencadearia toda a série: Marco e Pacifico Zamarian.
Novos documentos e a consequente progressão das conexões
No registro de Marco Zamarian, também tratando-se de um óbito o documento, obviamente como de costume cita sua idade, o que na mesma metodologia determina uma perspectiva muito próxima do ano de nascimento e também nomes que iriam fazer toda a diferença no momento e depois.
Ao informar os pais Antonio e Elena Petron, a conexão com o documento napoleônico de 1811traçou uma linha cronológica entre 1731(aproximadamente) e 1880:
atto di morte nº 56: L’anno mille ottocento ottanta, addì dodici di dicembre, a ore anti meridiane dieci e minuti zero, nella Casa Comunale.
Avanti di me Sbrajavacea Antonio segretario delegato con atto omologato trentuno ottobre mille ottocento ottanta del Ufficiale dello Stato Civile del Comune di Precenicco, sono comparsi (1856) Zamarian Giorgio, di anni, ventitré, villico, domiciliato in Precenicco, e Zamarian Pacifico, di anni quaranta sei, villico domiciliato in Precenicco, i quali mi hanno dichiarato che a ore pomeridiane quattro e minuti zero di ieri, nella casa posta in Titiano al numero senza, è morto Zamarian Marco di anni ottanta due, villico, residente in Precenicco nato in Villanova, da fu Antonio, era villico, domiciliato in Villanova, e da fu Elena Petron, era villica, domiciliata in detta Villanova, vedovo di Angela Biasin.
A quest’atto sono stati presenti quali testimoni Faggiani Francesco, di anni ventinove, impiegato, e Neri Hermenino di anni cinquanta tre, villico ambi residenti in questo Comune. Letto il presente atto a tutti gli intervenuti, lo hanno fermato con me sottoscritto ad eccezione dei dichiaranti perche illetterati.

Pacifico e Giorgio, embora não citado a relação dos mesmos com o Marco, depois revelaria, em seus respectivos documentos, tratar-se de filho e neto:
Numero 17: L’anno mille ottocento novanta sette, addì diciassette di novembre, a ore po meridiane nove e minuti nessuno, nella Casa Comunale.
Avanti di me D’Este Davide assessore supplente in assenza del Sindaco e degli assessori effettivi Ufficiale dello Stavo Civile del Comune di Precenicco, sono comparsi (1847) Zamarian Francesco, di anni, quarantanove, guardia privato, domiciliato in Precenicco, e (1835) Tonizzo Giacomo, di anni sessantadue, bracciante domiciliato in Precenicco, i quali mi hanno dichiarato che a ore anti meridiane sei e minuti trenta di oggi, nella casa posta in Pescarola al numero duecento ventidue, è morto Zamarian Pacifico di anni settantatré, agricoltore, residente in Precenicco nato in Villanova di San Michele, da fu Marco, agricoltore, domiciliato in vita in Precenicco, e da fu Blasin Angela, agricoltrice, domiciliata in vita in Ronchis, marito di Blasin Angela.
A quest’atto sono stati presenti quali testimoni Gatto Angelo, di anni trentatré, cocchiere, e Francesco Faggiani di anni quarantatré, cursore, ambi residenti in questo Comune. Letto il presente atto a tutti gl’intervenuti, lo hanno questi meco sottoscritto meno il dichiarante Zamarian asseritosi illetterato.

Através de Pacifico desencadearia o descobrimento de uma enorme rede de descendentes, ampliando substancialmente o gráfico e deste modo arquitetando o tronco base para toda nossa genealogia.
Os irmãos Francesco (citado no óbito acima de Pacifico) e Marco Zamarian mudariam os holofotes de nossa pesquisa para a Argentina, especificamente para as cidades de Maipú, Godoy Cruz e outras da macro região Mendoza, pois aos poucos surgiram documentos digitalizados como esse da paróquia de San Vicente:
AÑO 1916
Leonello Zamarian
Herminia Angeleli
En diez y seis del mes de Enero del año mil novecientos diez y seis autoricé por palabras de ? el matrimonio de Dn. Leonello Zamarian de veinte años, natural de Italia de estado soltero hijo legitimo de Dn. Francisco Zamarian y de D.ª Angela Peticco domiciliado en esta Parroquia con D.ª Herminia Angeleli de diez y siete años, natural de Italia de estado soltera hija legitima de Dn. Luis Angeleli y de D.ª Adelaide Piccione domiciliada en esta Parroquia.
Siendo testigos del acto Dn. Pedro Constantini y D.ª Eugenia M. De Constantini
Expediente matrimonial
N.º Carlos Z. Cassole
El Cura de la Parroquia

Surgia aqui então, através desse registro de casamento uma conexão forte com a ramificação de Pacifico Zamarian, já que também cita os nomes de Francisco (Francesco) e Angela Peticco (ou Piticco) e ao encontrar o registro de nascimento de Precenicco do Lionello, tudo se encaixou perfeitamente:
Numero 53: L’anno mille ottocentonovanta cinque, addì ventisei di ottobre, a ore anti meridiane undici e minuti dieci, nella Casa Comunale.
Avanti di me De Lorenzo Giovanni Sindaco Ufficiale dello Stato Civile del Comune di Precenicco, è comparso Zamarian Francesco di Pacifico, di anni, quarantaquattro, guardia privato, domiciliato in Precenicco, il quale mi ha dichiarato che a ore pomeridiane sei e minuti cinque del dì ventidue, del corrente mese, nella casa di Precenicco al numero Duecentoventidue, da Piticco Angela, sua moglie, agricoltrice, se co lui convivente.
è nato un bambino di sesso maschile che lo mi presenta, e a cui da il nome di Lionello che è gemello con altro cui concerne l’atto seguinte.
A quanto sopra e a quest’atto sono stati presenti quali testimoni Francesco Faggiani, di anni quarantuno,* cursore, e Perosa Giacomo di anni ventiquattro,*bracciante entrambi residenti in questo Comune
Lo stesso dichiarante mi ha inoltre attestato che il bambino predetto è il primo nato
Letto il presente atto agli intervenuti lo hanno questi meso sottoscritto meno il dichiarante asseritosi illetterato.

O documento citaria também sua irmã gêmea Eloidia que casou-se com Giovanni Pozzetto, do qual o historiador Edi Pozzetto (citado acima) tem conexão.
Porém ela ficaria na Itália e o irmão daria seguimento a ramificação da família na Argentina.
Claro, para completar o que faltaria seria necessário uma ajuda substancial dos mais próximos dessa ramificação e não chegaríamos a um porto jamais se nossos primos argentinos não colaborassem.

Em especial é preciso citar dois agradecimentos aqui: um a Luis Fernando Zamarian, que me ajudou no contato com o pai Pedro e a toda família de Armando Luis Zamarian com as simpáticas filhas Etel, Hebe e Estefania. Os irmãos Pedro e Armando fizeram questão de me ligar e ajudar no que fosse preciso com os dados para concluirmos esse cordão de toda uma geração de mais de 300 anos.
Com eles vieram tantos como Melisa, Laura, Rosita, Carlos, Paola, Mariana, Victor, Ruben, Gerardo, Dora, Herminia e tantos outros para que desenvolvêssemos em um único fio condutor 1705 a 2020.
Difícil não dizer que depois a colaboração foi fantástica com a mesma receptividade e pronto atendimento do tamanho de nossa obra nos ajudando com os dados. Assim continuamos firme no propósito de concluirmos também os trabalhos em Salta onde Nicolas, Orietta e Carlos Alberto tem ajudado desde sempre.

É interessante que nessa tentativa de achar um ponto em comum com vários Zamarian que tinham o mesmo desejo, lembro bem de uma conversa com a Samantha em 2012.
Ela citou alguns de seus familiares, principalmente avós e bisavós e não conseguimos chegar efetivamente a uma conexão.
Ao reatar a conversa em 2019 foi emocionante; descobrirmos que sua conexão mais próxima seria justamente essa de Mendoza, já que o quarto avô Osvaldo era irmão de Pacifico, pai de Francesco e Marco que deram origem a toda ramificação do vale da uva argentino.
Essencial, esse o termo que se enquadra bem ao primeiro passo ligeiramente atrevido e apaixonadamente envolvedor, que nos seduziu ao ponto de desenvolvermos toda nossa gigantesca dança genealógica até aqui.
